Julgava estar resolvido
o instante em que sucumbiu
a um sentir tímido e mudo.
Nunca dele se livrou
e hoje foi surpreendido
plo fantasma de um passado,
iminente e atravessado —
ao tempo que este o deixou
sozinho e desamparado
à custa de ser só seu.
Inventa agora um refrão,
é tempo já de o fazer.
Tens o quê para dizer? —
conclui a dissertação.
Jurou que não se lembrava;
organizou o embuste:
a inocentes palavras
(nada que agora lhe custe)
impunha o seu sentido.
Virava frases do avesso,
tentando dissimular
segredos, sonhos, promessas —
contagiasse a tolice,
seriam dois desta vez.
É tempo de outro refrão,
não te esqueças de o fazer.
O que é que tu queres dizer? —
atalha à conclusão.
Esta foi vez de lembrar —
ou então foi vez pra esquecer.
Achou-se na fantasia,
sem saber bem o que queria
foi-se deixando levar.
Legitimou a corrida
na fruição do instante,
como se, adolescente,
fugisse ao que sentia
com medo de o revelar.
Refrão, refrão, refrão.
Fazer, fazer, fazer.
Chegar, chegar, chegar
ao cabo e ao fim da canção.
credits
from Nuno Prata,
released November 25, 2014
Nuno Prata: voz, guitarra acústica, baixo acústico, claves, pandeireta / Nico Tricot: timbalão-tarola, maraca, guitarra eléctrica, voz
New York duo showcase an enigmatic blend of math rock guitars, pop-punk sing-a-longs, emo confessionals, and even rave-ready synths. Bandcamp New & Notable Nov 15, 2023