Sentada à minha espera,
sabe já com o que conta:
para não se sentir tonta,
de um querer intermitente,
desiste de ser urgente
a urgência que coloco
naquilo que nos prometo.
Desiste mas fica alerta,
com a vontade certeira
de fera à espera da presa —
dando azo a que a surpresa
seja sofrida por ela,
já que o compasso de espera
vai durando a vida inteira.
É algo ingrato o processo:
transforma-se em abcesso
o corpo, pútrido poço
onde nadam nada mortas
(com umbilicais cordões
enrolados no pescoço)
ideias vagas e tortas —
a fermentar por lá ficam.
Porém, no esboço de um passo
saldo a dívida comigo;
é o melhor que consigo
e aquilo que melhor faço:
não tiro a teima final,
escondo a pedra e atiro o braço.
Sentada à minha espera,
sabe-se já com que cara,
com carga que desanima —
tanta urgência para nada.
Acaba por ser afronta,
assídua ainda por cima,
convocá-la e reprimi-la.
Sentada à minha espera…
Sentado à minha espera,
sei já bem com o que conto:
furtar-me sempre ao confronto
é ambição suficiente.
credits
from Nuno Prata,
released November 25, 2014
Nuno Prata: voz, guitarra acústica / Nico Tricot: baixo eléctrico, bongós, teclado, cadeira
New York duo showcase an enigmatic blend of math rock guitars, pop-punk sing-a-longs, emo confessionals, and even rave-ready synths. Bandcamp New & Notable Nov 15, 2023